Memorial Eurípedes Barsanulfo

A Família Barsanulfo

A família de Eurípedes Barsanulfo foi fundamental tanto para sua formação quanto para a continuidade de seu legado após seu desencarne em 1918. Esta página apresenta os pais e irmãos que tiveram papel decisivo em sua trajetória e na preservação de sua obra.

15
Filhos do casal
Hermógenes e Jerônima
1874
Ano do casamento
dos pais de Eurípedes
78
Anos de vida de Dona Meca
(1859-1952)

Os Pais de Eurípedes

Hermógenes Ernesto de Araújo ("Mogico")

  • Nascimento: 1850
  • Desencarne: 20 de março de 1924
  • Local: Livramento, Minas Gerais
Biografia: Hermógenes Ernesto, conhecido como "Mogico", foi uma figura marcante na comunidade de Sacramento. Inicialmente trabalhando como balconista, evoluiu para comerciante e empresário, sendo proprietário da Casa Mogico, estabelecimento comercial de considerável importância na região.
Relação com Eurípedes:
Apesar de resistência inicial às atividades espíritas do filho, Mogico sempre apoiou Eurípedes em suas iniciativas educacionais. Seu apoio foi fundamental para a viabilização do Liceu Sacramentano e, posteriormente, do Colégio Allan Kardec.

Foi sempre presente na vida dos filhos, e mesmo com as dificuldades financeiras que enfrentou, garantiu espaço para que os filhos desenvolvessem suas potencialidades, sobretudo Eurípedes, de quem sempre reconheceu o extraordinário potencial intelectual e moral.
— Corina Novelino, "Eurípedes: O Homem e a Missão", 1979

Jerônima Pereira de Almeida ("Dona Meca")

  • Nascimento: 11 de outubro de 1859
  • Desencarne: 29 de janeiro de 1952
  • Local: Sacramento, Minas Gerais
Biografia: Jerônima, carinhosamente chamada de "Dona Meca", foi uma mulher de extraordinária força e resiliência. Órfã desde jovem, casou-se aos 14 anos e enfrentou inúmeros desafios ao longo da vida, incluindo crises de saúde que a acompanharam por mais de 30 anos.
Contribuições Espirituais:
  • Inicialmente católica fervorosa, Dona Meca converteu-se ao Espiritismo após testemunhar a transformação de seu filho Eurípedes. Desenvolveu notáveis faculdades mediúnicas de cura, sendo reconhecida por um magnetismo curador que, segundo relatos, era superior ao do próprio filho.

  • 1904: Após resistência inicial, converteu-se ao Espiritismo, influenciada pelo exemplo de Eurípedes
  • 1905-1918: Participou ativamente das atividades do Grupo Espírita Esperança e Caridade
  • 1918-1952: Após o desencarne de Eurípedes, continuou seu trabalho mediúnico e assistencial
Dona Meca era uma mulher de personalidade forte, alegre e brincalhona, mas também sóbria e profundamente sensível. Sua dedicação aos filhos e aos necessitados fez dela uma figura de grande respeito na comunidade sacramentana.
— Relatos de contemporâneos

Irmãos de Eurípedes

Eurípedes foi o terceiro entre 15 irmãos. Destacamos aqui alguns deles, especialmente aqueles que tiveram papel importante na continuidade de sua obra.

Waltersídes Willon (1884 - 1938)

  • Quarto filho do casal, Waltersídes foi o principal continuador da obra de Eurípedes após seu desencarne. Assumiu a direção do Colégio Allan Kardec e do Grupo Espírita Esperança e Caridade entre 1918 e 1938.
  • Atuou como professor no Colégio Allan Kardec
  • Preservou a metodologia pedagógica inovadora
  • Manteve vivo o legado espírita de Eurípedes
  • Enfrentou dificuldades para manter o colégio em funcionamento

Homilton Wilson (1900 - 1971)

  • Décimo segundo filho, fundamental na reabertura e manutenção do Colégio Allan Kardec após seu fechamento em 1925.
  • Reabriu a instituição como Escola Allan Kardec em 1935
  • Atuou como jornalista e escritor, publicando "O Canto do Borá" (1970)
  • Obteve registro oficial da escola em 1936
  • Dirigiu a instituição até 1941

Maria Neomísia (1876 - 1971)

  • Primogênita da família, Maria Neomísia ("Mariquinhas") foi uma importante figura de apoio tanto na vida de Eurípedes quanto na preservação de sua memória.
  • Ajudou a mãe nos cuidados com os irmãos mais novos
  • Casou-se com José Saturnino Júlio da Silva
  • Apoiou as iniciativas espíritas da família
  • Viveu até os 95 anos

Eulógio Natal (1878 - 1940)

  • Segundo filho do casal, apoiou ativamente o pai e os irmãos no comércio.
  • Homem trabalhador e honesto
  • Casou-se duas vezes e teve nove filhos
  • Dedicado à Doutrina Espírita e às iniciativas familiares

Eurídice Miltan ("Sinhazinha") (1889 - 1961)

  • Especialmente próxima de Eurípedes, foi curada por ele de grave obsessão espiritual.
  • Casou-se com Ataliba Cunha e teve 11 filhos
  • Exemplo de superação e dedicação ao próximo
  • A Vila Sinhazinha foi criada em sua homenagem

Edalides Milan (1893 – ?)

  • Importante colaboradora direta de Eurípedes na Farmácia Espírita e no Colégio Allan Kardec.
  • Atuou como parteira e assistente aos necessitados
  • Comemorou 60 anos de casamento em 1970

Os 15 Irmãos Barsanulfo

Nome Nascimento Desencarne Observações
Maria Neomísia08/07/187618/06/1971Primogênita
Eulógio Natal25/12/187829/02/1940Segundo filho
Eurípedes Barsanulfo01/05/188001/11/1918Terceiro filho
Wenefreda Dermecília20/08/188208/08/1931Quarta filha
Waltersídes Willon07/05/188421/05/1938Continuador da obra
Arísia Hermencília15/04/188509/07/1953Sexta filha
Odulfo Wardil22/02/1887?Sétimo filho
Eurídice Miltan ("Sinhazinha")07/12/188902/11/1961
Edalides Milan18/06/1893?Colaboradora direta
Edirith Irany27/04/189517/04/1961Décima filha
Heródoto18961896Faleceu aos 8 meses
Elith Irany09/09/1898?Professora no Colégio
Homilton Wilson27/05/190019/07/1971Reabriu o Colégio
Eulice Dillan17/08/190111/05/1928Décimo quarto filho
Wateville Wilman30/10/190223/01/1955Último filho

A Continuidade da Obra Através da Família

Após o desencarne de Eurípedes Barsanulfo em 1º de novembro de 1918, seus familiares assumiram a responsabilidade de dar continuidade à sua obra educacional e espiritual. Este período pode ser dividido em fases distintas:

1. Primeira Continuidade (1918-1925):
Sob a liderança de Waltersídes Willon, irmão de Eurípedes, o Colégio Allan Kardec e o Grupo Espírita Esperança e Caridade continuaram suas atividades. Destacam-se:
  • Manutenção da metodologia pedagógica de Eurípedes
  • Preservação do currículo inovador
  • Enfrentamento de dificuldades financeiras crescentes
  • Farmácia Espírita continuou o atendimento gratuito
Em 1925, o Colégio fechou temporariamente devido às dificuldades.
2. Período de Reabertura (1935-1941):
Dez anos após, Homilton Wilson reabriu a escola como Escola Allan Kardec.
  • Registro oficial na Secretaria de Educação de Minas Gerais (1936)
  • Adaptação metodológica
  • Compromisso com formação moral e espiritual
  • Integração da experiência jornalística à prática pedagógica
3. Legado Ampliado (1947-1975):
Após a direção da escola por Corina Novelino, os irmãos de Eurípedes mantiveram ativa a memória e o trabalho do irmão.
  • Fundação da União da Mocidade Espírita de Sacramento (1947)
  • Criação do Lar de Eurípedes (1952)
  • Vila Sinhazinha, homenageando Eurídice
  • Criação da Escola Eurípedes Barsanulfo (1975)
O Papel de Dona Meca:
Após o desencarne de Eurípedes, sua mãe Jerônima (Dona Meca) tornou-se uma figura central na preservação de sua memória e da obra espiritual da família até seu desencarne, em 1952.

Depoimentos sobre a Família

"Dona Meca era uma médium de cura excepcional, com um poderoso magnetismo que lhe permitia aliviar o sofrimento dos doentes. Inúmeras pessoas foram curadas por meio de seus passes magnéticos, e sua fama como curadora se espalhou por toda a região."
— Relatos compilados por Corina Novelino
"Watersides Willon tinha uma grande capacidade de concentração, era manso, terno, e mostrava através de suas atitudes a força da abnegação e da renúncia. Ele foi essencial para manter viva a chama do trabalho de Eurípedes nos primeiros anos após seu desencarne."
— Testemunho de ex-aluno do Colégio Allan Kardec
"Homilton Wilson era um homem de grande cultura e sensibilidade. Sua atuação como jornalista, poeta e educador trouxe uma dimensão intelectual vibrante à continuidade da obra de Eurípedes, especialmente na década de 1930."
— Periódicos de Sacramento, década de 1960
"A família Barsanulfo, em sua totalidade, representou um núcleo de irradiação dos valores espíritas em Sacramento. Mais que continuadores, foram multiplicadores da obra iniciada por Eurípedes, cada um em sua área de atuação."
— Avaliação de historiadores do movimento espírita

História e Vida Cotidiana da Família Barsanulfo

Uma Família Mineira no Século XIX

As terras de Minas Gerais, célebres por seu tradicionalismo e religiosidade, foram cenário da infância e juventude dos Barsanulfo. Em Sacramento, cidade fundada em 1820, a família se consolidou em meio a um ambiente de austeridade familiar e espírito comunitário.

O nascimento de Maria Neomísia, em 1876, coincidiu com a elevação de Sacramento à cidade. Instalados numa modesta casa, com dificuldades e trabalho constante, Meca e Mogico construíram um lar que prezava pela fé, disciplina e solidariedade. Após Maria Neomísia, vieram Eulógio Natal, Eurípedes e mais 12 irmãos, formando um núcleo familiar extenso e unido.

Brincadeiras e Vida Social

Eurípedes e seus irmãos vivenciaram, desde cedo, a criatividade e a fraternidade nas brincadeiras. Entre fogões improvisados, roupas simples feitas pela mãe, e corridas no quintal, a infância era permeada por desafios, mas também por alegria e união. As travessuras de Eurípedes, seu bom humor e entrega ao próximo já despontavam desde criança.

Saúde Frágil e Resiliência

A precariedade da alimentação tornou Eurípedes uma criança franzina e doente, exigindo sacrifício e atenção constante de Dona Meca. O exemplo materno forjou sua responsabilidade precoce, e a memória da mãe o acompanharia ao longo da vida, como referência de força e abnegação.

Formação Moral e Espiritual

O ambiente familiar moldou profundamente o caráter de Eurípedes: a prática da oração, a fé inabalável de Dona Meca, o cuidado com os irmãos e o serviço à comunidade foram fundamentos essenciais. O episódio de cuidado à tia Babota ilustra o amadurecimento precoce de Eurípedes e sua vocação altruísta.

Educação e Primeiros Estudos

Frequentou as escolas locais, indo além dos conteúdos tradicionais. O interesse por medicina, espiritualidade e ética surgia desde cedo, influenciado por livros, professores e pela atmosfera disciplinada do lar.

Referências

  • Corina Novelino. Eurípedes, O Homem e a Missão, 1979.
  • Alessandro César Bigheto. Eurípedes Barsanulfo, um educador espírita na Primeira República, UNICAMP, 2006.
  • Jaqueline Peixoto Vieira da Silva. Espiritismo e Educação: Eurípedes Barsanulfo e o Colégio Allan Kardec (1880-1918), UFU, 2017.
  • Relatos familiares e registros históricos da família Barsanulfo.
  • Arquivo de correspondências e depoimentos de contemporâneos, entre eles Heigorina Cunha.
  • Periódicos históricos: O Reformador, ano 1924, Hermógenes Ernesto de Araújo